sexta-feira, 26 de julho de 2013

Sobre gari, carrasco e baderna [relações semânticas]

Prof. Diógenes Afonso

O que Aleixo Gary, Belchior Nunes Carrasco e Maria Baderna têm a ver com gari, carrasco e baderna? Do ponto de vista de uma determinada relação semântica, tem tudo a ver. Vejamos:


GARI - Na cidade do Rio de Janeiro, no final do século XIX [11 de outubro de 1876], o empresário francês Aleixo Gary assinou um contrato com o Ministério Imperial. O contrato tratava da prestação de serviço de limpeza pública: remoção de lixo das casas e praias e o seu posterior transporte. Por transposição, os empregados de Gary acabaram sendo chamados de gary, [a palavra passou a ser grafada com -i e não com -y].


Carrasco - Por volta do século XV [ou XVII, para alguns], teria vivido, em Lisboa, um executor de pena de morte chamado Belchior Nunes Carrasco. Também por transposição, a palavra passou a designar pessoas cruéis, desumanas, disciplinadoras e punitivas em excesso.


Baderna - a bailarina Marietta Maria Baderna chegou ao Brasil no final do século XIX. Esteve no Rio de Janeiro em 1851, provocando “um certo frisson”. A história da baderna é ótima e muito explicativa a respeito do uso posterior que a palavra passa a merecer. Maria Baderna era, como se dizia antigamente, uma moça liberal e liberada. Muito liberada para a época, na avaliação de alguns. Ela ganhou inimigos ao decidir introduzir, entre os passos da dança clássica, gestos do lundu, uma dança de origem africana. Para piorar, Baderna era dada à boemia e gostava de beber e cantar com os amigos. Esse comportamento inaceitável deu vida nova ao seu nome. A baderna virou sinônimo de barulho, confusão, arruaça, esculhambação.

Pode-se dizer que, de um específico ponto de vista semântico, os sobrenomes GARY, CARRASCO e BADERNA representam o que se chama epônimos ou que, com os ditos sobrenomes, ocorreu o fenômeno semântico da eponímia: Gary ==> gari; Carrasco ==> carrasco; e Baderna ==> baderna.

Eponímia: nome de uma pessoa que passa a ser utilizado como substantivo comum [a grafia da letra inicial deve ser minúscula].

Referências:
HENRIQUES, Carlos Cezar. Semântica e estilistica. Curitiba, PR: IESDE Brasil, 2009.
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/meio-ambiente-reciclagem/dia-do-gari.php
http://www.sul21.com.br/jornal/2013/03/uma-breve-historia-da-baderna/
http://www.teclasap.com.br/2010/01/01/como-se-diz-lixeiro-gari-em-ingles/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carrasco
http://www.elianacaminada.net/rio.htm

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