quarta-feira, 28 de julho de 2010

Rafinha Bastos ataca de purista da língua portuguesa


Prof. DiAfonso*

Rafinha Bastos que integra o CQC andou, recentemente, fazendo piadas de mau gosto com a morte de Leila Lopes. O humorista postou no twitter: "Não condenem o suicídio. Pense: se você fosse a Leila Lopes, o que você faria?". A indignação que tomou conta dos que leram tal falta de respeito com um momento trágico não o fez recuar, pelo contrário, deixou-o transtornado a ponto de escrever a seguinte pérola: "Todos os que se ofenderam com o que eu disse da Leila Lopes: a vida é ótima e suicida tem mais é que se f****" [1]. Entenderam estes asteriscos, certo?!?!

O Rafinha já vem aprontando há algum tempo com esse pseudo-humor decadente que tem como objeto o menosprezo ao outro. Eis que, em abril de 2008, o dublê de comediante apontou sua metralhadora para o casal Nardoni, mostrando claramente que o riso só é provocado quando se tripudia das desgraças alheias. Na referida data, o dito Rafinha e o Marcelo Mansfield postaram um vídeo no qual se vê uma deprimente análise da entrevista dos Nardoni. Título do vídeo: Papo Furado: Análise gramatical da entrevista dos Nardoni. Deprimente, volto a afirmar. Eles, Rafinha e Marcelo, arvoram-se a detentores do "falar corretamente", fazendo análise de trechos que fogem ao que estabelece a norma padrão culta. Engraçado (isso, sim, é engraçado) é que os humoristas cometem erros que não deveriam cometer (vejam transcrições e comentários abaixo), pois eles estão defendendo a gramática normativa e o "correto" no uso da língua. Ao que parece, armaram a teia e nela se enroscaram.

Será que o Rafinha (o moço é de origem judaica, pessoal) já ouviu falar nos mais recentes estudos linguísticos? Estudos estes que apontam a língua como um "ser" social, histórico, cultural e sistemático e que se realiza na "fala" (individual e não sistemática)? Os abestados humoristas, ao fazerem tal incursão humorística, abrem um fosso e sedimentam não só o preconceito linguístico, mas também a ignorância deles mesmos quanto ao que vem a ser a linguagem verbal e seu uso.[2]

Assista ao vídeo:

  1. "Sabe aquele assassinato que teve a menina... Não interessa nem um pouco, porque já teve um assassinato cometido ali..." - Como assim, Rafinha?!?! O verbo TER significa POSSUIR e, apenas na linguagem coloquial, ele é usado como HAVER, EXISTIR, ACONTECER, OCORRER. Será que a sua sapiência gramatical deixou escapar esse detalhe? Ao usar o verbo TER, você disse, em outras palavras: "...aquele assassinato que POSSUIU a menina..." e "...já possuiu um assassinato cometido ali..." Intrigante...
  2. "...o assassinato da língua portuguesa..." - Você estava então tentando prender os assassinos? Se conseguir, pelo menos, enterrar a língua culta e bela que tanto defende já está de bom tamanho.
  3. "...virrrrr" - De fato, a grafia não é "vim". A questão não é essa, mas o fato de você dizer que "...não entendi nada..." Você sofre de algum distúrbio a ponto de não conseguir entender uma variação muito comum na língua portuguesa? Isso é língua portuguesa, Rafinha, não é grego, nem aramaico. O que ocorre é uma pronúncia que se distancia daquela ditada pela norma.
  4. O Marcelo diz, a certa altura: "...verbo, objeto direto, sujeito oculto... ditongo crescente..." - Será que você, Marcelo, está querendo dizer que sabe de análise sintática apenas por enumerar uma nomenclatura cuja limitação não dá conta dos fatos linguísticos?
  5. "Marcelo, e se o pessoal que está assistindo esse vídeo acha que é de mau gosto a gente fazer piada com esses dois..." - Esquenta não, Rafinha, você já provocou risos nos puristas da língua quando fez uso do verbo ASSISTIR sem a preposição "A" (nesse contexto, quem ASSISTE, ASSISTE A). Que mico, héin (?!?!) tripudiar dos Nardoni, cometendo alguns "errinhos" básicos.
Alguns dirão: "Mas os cara só tavam fazeno humô...". Eu direi: "Fazê humô constrangendo as pessoa a parti do uso qui elas fáis da língoa é preconceitu!"

Ressalte-se que a variante dita padrão culta é a variação de maior prestígio social e deve ser aprendida e apreendida para uso no contexto linguístico que lhe for apropriado. As variações de menor prestígio devem ser respeitadas e usadas também no ambiente linguístico em que elas tenham sua existência validada pelo interlocutor. O fato de um falante utilizar uma outra variante e não aquela tida como padrão e culta pelos que detêm o poder (Língua também é poder!) não nos deve levar à conclusão de que a língua esteja sendo usada de forma "errada".

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*Editor-geral do Terra Brasilis Educacional

[1] Para ler o que escreveu Rafinha Bastos, clique AQUI.
[2] Esta postagem tem efeito, apenas, pedagógico.   
Artigo publicado originalmente no Terra Brasilis.

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