quarta-feira, 28 de julho de 2010

Regência e Concordância em Gêneros Textuais Jornalísticos

Na capa dois do Jornal do Commercio, coluna repórter jc (10.set.2009), lê-se o seguinte trecho:

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A Comissão de Meio Ambiente da Assembléia tenta audiência com o prefeito do Recife, João da Costa (PT), para informá-lo que existe, sim, duas outras áreas, além da Mata do Engenho Uchôa, para receber a usina de processamento de lixo. [...]

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O segmento em destaque apresenta, de acordo com a variedade padrão da língua portuguesa, dois desvios: um de regência e outro de concordância. A grafia da palavra Assembléia (tal como se encontra no trecho) não será discutida nesta postagem, uma vez que as alterações propostas no novo acordo ortográfico só entrarão em vigor, definitivamente, a partir de 2012.

DESVIO DE REGÊNCIA VERBAL

Conforme a nomenclatura usada pelo linguista francês Lucien Tesnière, a forma verbal informar gera dois argumentos internos: um regido de preposição e outro sem preposição. No fragmento analisado, os argumentos internos ou complementos verbais -LO (objeto direto pronominal) e QUE EXISTE, SIM, DUAS OUTRAS ÁREAS (objeto indireto oracional) estão associados ao verbo informar. Entretanto, pode-se notar que a oração introduzida pelo conectivo integrante QUE não é regida de preposição. É aí que se verifica o desvio. A redação do segmento, segundo a variante dita culta, deveria ficar assim: ...para informá-lo DE QUE... ou, ainda, ...para informar-lhe QUE... Nesta última construção, é necessário esclarecer que o -LHE passa a ser o argumento ou complemento verbal objeto indireto, enquanto que a oração iniciada pela conjunção integrante QUE passa a ser argumento ou complemento verbal objeto direto. Como os pronomes oblíquos átonos rejeitam preposição, a última construção ficaria, corretamente, desprovida deste conectivo.

DESVIO DE CONCORDÂNCIA VERBAL

Quanto ao aspecto da relação entre o argumento externo denominado sujeito e a forma verbal existe, percebe-se que aquele apresenta um núcleo no plural (áreas, em duas outras áreas) e esta encontra-se flexionada no singular. Desse modo, constata-se uma flagrante discordância entre o núcleo do sujeito e a forma verbal. A redação, em conformidade com o que prescreve a norma culta, seria: ...que EXISTEM, sim, duas outras ÁREAS...

Não se pretendeu, nesta postagem, fazer uma crítica ao redator da coluna, mas, unicamente, apresentar uma análise de desvios - relativos à variante padrão - em gêneros textuais jornalísticos.

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