quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Sobre título em matéria publicada no portal UOL*

Prof. Diógenes Afonso**

É possível, a partir dos mecanismos que a língua portuguesa oferece, expressarmos o mesmo conteúdo semântico [ou equivalente] por meio de verbos e substantivos. Assim é que notamos, por exemplo, a preservação básica da mesma idéia contida em criar/criação; delatar/delação; renunciar/renúncia; e testemunhar/testemunho.

A questão é quando temos, na forma de grafar, uma proximidade entre alguns verbos e alguns substantivos. Como saber, então, se estamos diante de um verbo ou de um substantivo? 

Em alguns casos [1], é necessário nos valermos da acentuação gráfica ou de sua ausência para que evitemos o uso da forma verbal em lugar da forma substantiva ou vice-versa e, desta maneira, definirmos, por meio de seleção vocabular, que classe gramatical teria sua presença efetivada num dado contexto linguístico.

Podemos ilustrar tal discussão, tomando por base o título de uma matéria publicada no portal UOL [2], em 10/01/2011. Vejamos:




Na titulação da matéria [que trata da constatação, feita pela Anistia Internacional - seção espanhola, de que 173 presos permanecem na Base Naval dos EUA, em Guantánamo, sem julgamento adequado], o[a] redator[a] pretendeu fazer uso da forma verbal  denuncia [sem acento]. Entretanto o que lemos é o resultado da ação verbal denúncia [um substantivo, portanto] e não a ação em si [um verbo].

Verifiquemos outros exemplos, a partir de um contexto dado, em que a ausência ou presença do acento gráfico "desloca" a palavra para outra classe gramatical [não, necessariamente, de  substantivo para verbo]: amém/amem; anúncio/anuncio; até/ate; cópia/copia; íntegro/integro; renúncia/renuncia; sábia/sabia etc.

[1] Claro está que, além do uso do acento gráfico, é possível demarcar a que classe de palavra pertence tal ou qual vocábulo lançando mão de outros meios, como o fonético, por exemplo, em: recomeço/recomeço. De qualquer modo, o contexto denunciará que classe gramatical deverá ser usada.

[2] Para ler a matéria na íntegra, clique AQUI. Vale lembrar que o "equívoco" já foi comunicado ao portal e, possivelmente, corrigido... Ou não.

* Este artigo [sugerido por um seguidor do Terra Brasilis] tem efeito apenas pedagógico, considerando as normas ortográficas vigentes.  Não pretende, portanto, "satanizar" linguisticamente quem quer que seja.

** Editor-geral do Terra Brasilis

Conheça, em slides, as bases do Novo Acordo Ortográfico, bem como as principais alterações e países. Acesse AQUI.

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