quarta-feira, 24 de junho de 2020

NOSSA LÍNGUA: VEREDAS 04 - Metaplasmo por acréscimo [PARTE 2]

    Continuação da postagem anterior...

    Para fundamentar o que foi dito na postagem anterior e considerando o processo de transformação do latim em português, buscamos nos alumiar num tá de metaplasmo, que é a transformação estrutural de determinadas palavras a partir da qual podem ocorrer acréscimos, eliminações ou mudanças de posição dos sons de que elas se compõem. No caso aqui abordado, houve metaplasmo por acréscimo e, mais estritamente, por prótese do a- em alguns verbos.

    Evidente que essa estrutura verbal, do ponto de vista da forma e da pronúncia, constitui-se como arcaísmo, isto é, surge como palavra em desuso quanto à sua regularidade de emprego nos atos comunicativos hodiernos [“hodiernos” tá me cheirano a um arcaísmo... “Mai será o binidito?!?!”... rsrs].
     
Contudo, é evidente também que, em alguns verbos, o a- protético ateima em permanecer nos falares de nativos de algumas áreas rurais e mesmo, como se disse no início, de falantes que migraram para os grandes centros e trouxeram em sua bagagem linguística esse uso.

    A impressão que se tem é a de que o “isprito” de Camões arresiste na alma linguística desse povo que avoa feliz por dizer o que precisa dizer e se assenta na sua imperativa liberdade de usar a língua, ainda que não saibam eles que não existe “erro” algum na utilização de tais “verbos protéticos”.

    Enquanto os “doutos” falantes abestados vão achano “errado” o metaplasmo por acréscimo do a-, eu vou aqui arregistrano com o cumpadi Ednardo:

Arrepare não, mas enquanto engoma a calça eu vou lhe contar
Uma história bem curtinha, fácil de cantar
Porque cantar parece com não morrer

É igual a não se esquecer

Que a vida é que tem razão”


Publicado no jornal O PODER, edição 89  


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