“[...]
INTONCE
MARIDO / SE ALEVANTA / E VAI NA CASA DA TUA AVÓ / BUSCÁ A ISPINGARDA
DELA / PRO CÊ CAÇÁ UM MOCÓ / SÓ QUE Lá NO LAjEDO / TEM COBRA BRABA / NUM É
MINHA VÉA / ME MORDE E FICA PIÓ / E AI D`EU SODADE
[...]”
Acesso em: 16 jun. 2020 – com adaptações.
Em alguns falares regionais, sobretudo, os de origem rural, é comum se
ouvir o emprego vocabular tal como se encontra grifado no segundo verso de uma
composição interpretada por Geraldo Azevedo – em seu site, o cantor e
compositor arregistra, como anônima, a letra de canção.
Quem de nós não já teve a oportunidade de escutar algum nativo – da área
rural ou que tenha migrado para a dita metrópole – pronunciar as palavras
grifadas que se seguem: “Se bem me alembro...” / “Ele se amostra
pouco, vú!” / “Arrodêia!” / “Assopra a foguêra pra num apagá”?
Quem de nós, afeito ao uso metropolitano de uma língua dita “correta”,
não estranhou e até soltou aquele risinho de reprovação no canto da boca ao
ouvir tais pronúncias? Quem de nós não titubeou, do alto de um suposto e aristocrático
emprego “correto” da língua, a vaticinar que o fulano, o sicrano ou o beltrano vivem
falando “errado”?
Apois, vú! Né assim que a banda toca, não! Há razões de ordem fonética
pertinentes à evolução da língua para que tal emprego se justifique, inclusive,
com o apoio da escrita de Luís Vaz de Camões, em sua clássica obra “Os
Lusíadas”:
“Nem as ervas do campo bem lhe abastam” / “Vinham as claras águas
ajuntar-se” / “Mas alembrou-lhe uma ira que o condena” / “Alevantando
o rosto assim dizia” / “Alimpamos as naus, que dos caminhos” / 6 “A
noite negra e feia se alumia” / “Andar-lhe os cães os dentes amostrando”
[...]
[BAGNO,
Marcos. A língua de Eulália: novela sociolinguística.
15. ed. — São Paulo:
Contexto, 2006.].
Nenhum comentário:
Postar um comentário