terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O resultado do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa)

Duas visões para um mesmo fato


Visão 1


Brasil está entre países que mais evoluíram em educação

O Brasil está entre os três países que alcançaram a maior evolução no setor educacional na última década. É o que apontam os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) de 2009, divulgados nesta terça-feira (7).

A prova é aplicada a cada três anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e avalia o conhecimento de estudantes de 15 anos de idade em matemática, leitura e ciências. No ano passado, participaram 65 países.

O Brasil ingressou no Pisa em 2000. Desde então, a média entre as três provas — considerando os resultados em leitura, matemática e ciências — subiu de 368 para 401 pontos. Nesse mesmo período, apenas dois países conseguiram melhorias superiores aos 33 pontos alcançados pelo Brasil: Chile (mais 37 pontos na média) e Luxemburgo (mais 38 pontos).

Na média, os países-membros da OCDE ficaram estagnados de 2000 a 2009, sem avanços. O Brasil estabeleceu metas de melhorias no Pisa, como as que já existem para o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Para 2009, o objetivo era atingir 395 pontos, o que foi superado. Em 2021, o país precisa alcançar 473 pontos — média dos países da OCDE.

Ex-lanterna

Na avaliação do ministro da Educação, Fernando Haddad, os resultados desmontam a teoria de que o Brasil estaria sempre em defasagem em relação aos países desenvolvidos, já que somente em 2022 atingiria níveis semelhantes na avaliação. “O mundo está estagnado do ponto de vista da qualidade [da educação]. Embora alguns países da OCDE tenham melhorado, outros pioraram e, na média, ficaram estagnados. Em educação sempre há espaço para melhorar — mas o mundo desenvolvido está com dificuldade em fazer a sua média subir”, afirmou.

Para Haddad, o “pior momento” da educação brasileira foi no início da década, entre 2000 e 2001, quando o país ocupou a lanterna no ranking do Pisa. Segundo o ministro, essa tendência está revertida e parte dos avanços se deve às mudanças no sistema de avaliação do país, especialmente a criação do Ideb em 2005 que atribui e divulga nota para cada escola pública.

“Não tenho dúvida que isso impactou muito favoravelmente, mexeu com a educação no Brasil. Em 2006, quando divulgamos pela primeira vez os resultados por escola, informamos diretores, professores, passamos a fazer formação [de professores]. Estamos só colhendo os resultados dessa percepção de que a aprendizagem estava afastada do cotidiano da escola”, afirma Haddad. O maior crescimento – de 17 pontos – se deu no último triênio (2006-2009), destacou o ministro.

Haddad ressaltou que a escola não pode se ocupar somente dos resultados em avaliações, mas não pode esquecer que está formando alunos que “precisam ter proficiência nas disciplinas básicas. “A educação não se reduz a isso, os testes padronizados são importantes, mas não esgotam a questão. A educação transcende esses testes, mas a avaliação é um elemento que estava faltando na cultura escolar”, apontou.

O relatório da OCDE também destaca a criação do Ideb como ação importante para a melhoria dos resultados e aponta o Brasil como exemplo a ser observado por outros países com baixa proficiência.

“O país investiu significativamente mais recursos em educação, aumentando os gastos em instituições de ensino de 4% do PIB [Produto Interno Bruto] em 2005 para 5% em 2009, alocando mais recursos para melhorar o salário dos professores. Também gastou o dinheiro de forma mais equitativa do que no passado. Recursos federais agora são direcionados para os estados mais pobres, dando às escolas recursos comparáveis aos que são disponibilizados nos mais ricos”, diz o relatório, em referência ao Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), criado em 2006.

Visão 2


Educação é o desafio do século 21, e o Brasil está muito atrasado

Miriam Leitão comenta o resultado do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa).

É um número horroroso. O Brasil está há anos entre a 52ª e a 53ª posições nesse ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Mesmo melhorando em relação a ele mesmo, o Brasil está tão atrasado que não consegue passar outros países.

O Brasil está atrás do México, que é parecido com o Brasil. Chile e Uruguai sempre foram destaques na América Latina em escolaridade e investimento em educação, mas não o México. É um país para o qual a gente não tem razão alguma de perder.

O Brasil está muito atrasado na educação e, com esse ranking, a gente não vai ser a potência que se sonha em ser. Não tem jeito. Hoje este é o maior desafio econômico. Não é um desafio social. É preciso avançar na educação.

O que pesa mais nesse resultado? Talvez tudo. Falta interesse dos alunos e falta interesse dos professores. Mas o interesse do aluno tem de ser despertado pelo interesse do professor. O país deve colocar a educação como prioridade. Esta é uma tarefa de todos nós. É nosso grande desafio no século 21: ou a gente avança ou a gente perde o projeto de raiz.

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