domingo, 12 de dezembro de 2010

Reflexões de uma educadora


Elena Judensnaider Knijnik

"No círculo de cultura, a rigor, não se ensina, aprende-se em 'reciprocidade de consciências'; não há professor, há um coordenador, que tem por função dar as informações solicitadas pelos respectivos participantes e propiciar condições favoráveis à dinâmica do grupo, reduzindo ao mínimo sua intervenção direta no curso do diálogo"

[Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido, página 10]

É sob vários e diversos aspectos que meu envolvimento com a experiência da 29ª Bienal me transformou e continuará transformando a cada dia, através da reinterpretação do que se passou nos últimos oito meses, desde o início do curso de formação.

Aprendi, acima de tudo, a potência do silêncio. Descobri a beleza na qual o conjunto das interpretações individuais pode se tornar. Conquistei a segurança que precisava para assumir o que não sabia e arriscar o que pensava saber. Pensei na arrogância que nos leva a acreditar que o nosso papel como educador é o de despertar o interesse das pessoas - quem disse que o que temos a oferecer é interessante? (Citando Paulo Freire, o educando só é educando se assim se reconhecer. Não se pode maquinar táticas de convencimento para que alguém use instrumentos já prescritos de reflexão para si.)

Desenvolvi meios de me aproximar da linguagem e da realidade das pessoas com quem conversava, a fim de encontrar um chão comum entre o que me era dito, o que eu poderia falar, e as obras de arte. Aliás, com exceção à última sentença, parei de deixar as obras em último lugar - me apaixonei por muitas delas, principalmente por aquelas que me despertavam certo incômodo. E não me permito mais abrir mão do esforço de tentar encontrar, dentro de mim, o que qualquer obra que a princípio não me diz nada pode fazer sentir.

Procurei compartilhar o potencial político que enxerguei em muitas obras, e reparei a dificuldade específica de estabelecer uma aproximação de identidade entre elas e qualquer um que com elas entrasse em contato.

Me maravilhei com a inocência de muitas crianças que me ensinaram que não ter medo do óbvio e da própria imaginação é impreterível. Me transformei com muitos dos textos que meu supervisor generosamente deixou a cargo de nossa interpretação. Como qualquer outra referência de pessoa adulta e experiente, várias das frases vindas dele ressoam na minha cabeça com uma força que atinge e sensibiliza outros espaços da minha vida.

Sabe quando os pais frisam que "Falar dos outros é fácil"? Nunca fez tanto sentido! Devo dizer que, por mais que os atritos que surgiram das expectativas e incertezas acerca da organização política dessa instituição complexa que é a Fundação Bienal tenham abalado a mim e a outros, um passarinho me avisou que o maior erro que alguém pode cometer é o de fechar as portas da comunicação, e a maior motivação deve residir em agir nas brechas daquilo de que se discorda.

Tive certeza de que quero atuar na educação. Me deparei com realidades muito díspares num mesmo ambiente físico e tive contato com algumas das contradições e carências existentes em todas elas.

Quebrei preconceitos. Ah, a tolerância! Talvez um dos maiores ganhos de todo esse processo. Localizei reflexos do contexto macro (lembrei a palestra com Suely Rolnik) dentro do microcosmo que nos esteve acessível durante esses meses.

Conquistei espaços materiais e subjetivos. Me exigi autonomia e autoralidade. A autoridade não precisa ser autoritária, mas não pode ser ausente (essa tripla aliteração foi aleatória).

Termino esse esboço de qualquer coisa admitindo como o reconhecimento do outro e de mim dentro dessa experiência foi recorrente, e a minha vontade de que dessa relação todos os pontos negativos e positivos tenham resultado em algo minimamente divisor de águas para os outros do jeito que sinto que foi para mim.

Do NovaE

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